8 de junho de 2007

O Videoconcerto

Houve um tempo em que a audição era o único sentido que unia os melómanos à fonte da sua predilecção, estando esta apenas acessível através dos espectáculos ao vivo, das emissões de rádio ou das gravações em velhos discos de vinil. Mas a partir do momento em que a palavra “áudio” se colou à palavra “visual”, a realidade transfigurou-se radicalmente para o campo das percepções super estimuladas, provando que a fruição de qualquer coisa para a qual concorram dois ou mais sentidos é, sempre, muito mais recompensadora.

A televisão terá sido o grande catalizador dessa mudança, através das actuações de músicos em programas de variedades, e depois com a transmissão de performances inteiras enquanto sustentáculo de programas televisivos per si.

Quando os meios tecnológicos permitiram a existência de videogramas comercializáveis a um público alargado, sobretudo com o formato VHS, também os registos de puros espectáculos musicais abriram uma categoria no mercado audiovisual, apesar da sua concepção ainda obedecer às lógicas televisivas da mera reprodução do acontecimento, com excepção de alguns objectos de rara criatividade.

Com o advento da digitalização e posterior popularização do formato DVD, é, hoje, possível assistir, no conforto do lar, a um concerto sinfónico ou até de rock, sem que haja perdas ao nível da qualidade da reprodução de som.

O salto qualitativo ao nível da imagem, mais as evoluções que se advinham (alta definição), tem permitido estabelecer este formato em aposta regular da indústria musical. Quer como bónus na edição dum CD, quer como produto individualizado de venda. Se quisermos antever o futuro, em que apenas a canção individual terá predominância nas vendas musicais, este formato poderá mesmo ser o veículo de súmula e caução às reais capacidades dum artista.

Por outro lado, a flexibilidade deste formato permite desenvolver um conjunto de conteúdos audiovisuais quase ilimitado, estando este pequeno segmento de mercado ainda em estado de desenvolvimento. Mas a profusão e a procura destes produtos está a levar necessariamente à diferenciação de algumas propostas e ao explorar de vias mais criativas de dimensionar essa experiência visual.

Se a emotividade, o aparato cénico e a espetacularidade visual duma performance real sempre fascinou o nosso olhar, é natural que a forma da sua perpetuação pressuponha o simulacro do presenciamento, mas isto, a um nível ampliado de envolvência e proximidade desse acontecimento de palco através da plataforma audiovisual. É pois, nesta lógica que as novas técnicas e práticas de realização têm vindo a alterar os cânones televisivos e a ultrapassar as práticas convencionais de registo, por uma dinâmica visual intensificadora, insuflando um deslumbramento imersivo e interactivo.

Tal como os videoclipes inicialmente partiram de modelos televisivos e cinematográficos para a afirmação duma estética própria, também os videoconcertos se encontram, hoje, num estado transitório para algo diferenciado das práticas habituais e que convém acompanhar com atenção especial.

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